"Sou um homem comum e não quero que me transformem numa vedeta"
Zeca Afonso
(em Cena 7, do vespertino A Capital, em 26 de Dezembro de 1970)
No final da ditadura, mas também após o 25 de abril de 1974, Zeca foi alvo de criticas desencontradas e contraditórias mesmo por certos setores da imprensa considerados esquerdistas.
Sobre o álbum "Venham mais cinco" (1973) Teresa Botelho na revista "r&t" de 5 de Janeiro de 1974 criticava o disco dizendo que Zeca tinha incorrido no «erro de extremamente inclinado a construções de frases bonitas de ouvir, mas difíceis de compreender» «se ele visse com atenção como o público que, em princípio, lhe interessaria, reage perante algo claro e directo, como «A Morte Saiu à Rua» e perante o confuso «Venham Mais Cinco» talvez pensasse duas vezes, se é o que quer fazer».
Certo é que o que esta crítica de discos considerava confuso foi um tema que ficou na nossa memória coletiva. O povo não era tão estúpido como Teresa o fazia.
Mesmo após o 25 de abril uns consideravam Zeca «panfletário», outros de pretensa excessiva elaboração de certos poemas, como foi dito por José Mário Branco, que Zeca estaria a enveredar por um «certo poetismo, um certo hermetismo das letras».
Outras críticas que habitualmente recebia era de que estaria a enveredar por um certo vedetismo. Na Revista Musicalíssimo de 12 de abril de 1974, saiu em capa, Zeca Afonso vestido de Super-Homem, com o título «Zeca Afonso superstar». Em artigo, Viale Moutinho escrevia que Zeca fora erigido como vedeta pela «esquerda», não faltando quem o utilizasse «como porta-estandarte da sua própria luta intestinal». Noutro artigo na revista José Ribamar lembrou que o cantor era o próprio «anti-espetáculo», rebatendo por outro lado as críticas de hermetismo que lhe faziam.
Certo é que Zeca ultrapassou tudo isto, com muitos dissabores sim, mas sempre igual a si próprio. Nem vedeta nem hermético, mas como um homem comum como todos nós.
Fonte: Fotobiografias do século XX de Irene Flunser Pimentel