"A primeira vez que foi cantada foi há vários anos, para os operários da Fábrica da Abelheira..."
Zeca Afonso
"Em 1973, Zeca foi cantar "O que faz falta" para que uma fábrica não fechasse e ela não fechou — era a Fábrica de Papel da Abelheira do grupo Champalimaud, de onde saiu o papel para imprimir o livro Portugal e o Futuro, de António de Spínola, obra que, como recorda João Paulo Guerra, "forneceu a muitos dos Capitães de Abril uma bandeira e um ideário para derrubar o regime." (1)
"Anos 70, ainda antes do 25 de Abril, na fábrica de papel da Abelheira. A fábrica fora encerrada em 15 de Janeiro de 1973 e os trabalhadores resistiram aos despedimentos ocupando as instalações de São Julião do Tojal, Loures. O José Afonso foi lá cantar uma noite. Eu estive lá como jornalista do Notícias da Amadora. A notícia é que teimou em não sair. O José Afonso foi na qualidade de homem solidário. E, já que lá estava, cantou. Cantou “O que faz Falta…”, acompanhado por um coro de vozes de trabalhadores ao longo de meia hora, três quartos de hora… Sempre em crescendo, um crescendo de emoção e exaltação, com estrofes e versos improvisados sobre o refrão: O que faz falta é avisar a malta… animar a malta… juntar a malta… organizar a malta… libertar a malta… armar a malta…" (2)
(o Colégio de S. José funcionava também como internato masculino e o de Stª Maria como feminino)
"O «verdadeiro» professor era aquele que «arreava», feito máquina de habilitar para ir a exame com média de 11 ou 12 numa escala de vinte. (...) Além do papel de ensinar a matéria estipulada no programa, cabia-nos também a tarefa de vigiar o aspecto sexual-amoroso dos alunos e, nomeadamente, impedir que houvesse troca de bilhetinhos entre rapazes e raparigas. O colégio era misto, as raparigas entravam por um lado e os rapazes por outro e só se encontravam dentro das aulas. Convém não esquecer que a repressão era feita a pedido dos pais..."
Dr. José Afonso –o “Zeca Afonso” (ao centro de mãos nos bolsos) - dava aulas de História e Filosofia, decorria o ano de 1956/57, com alguns dos seus alunos, no Largo da Igreja da Misericórdia em Mangualde.
"A Zélia não teve oportunidade de estudar por razões económicas, suponho. Então vivi uma verdadeira situação siciliana, um bocado ridícula, mas que efectivamente existiu.
Toda a Fuzeta me sacudiu e de uma maneira geral se prestou ao papel de policiar as minhas relações com a Zélia. Durante dois anos consegui viver uma situação praticamente impossível, em que me senti obrigada a meter-me em quase todos os buracos do mundo. Conseguiram privar-me do contacto com a Zélia. Por mais voltas que eu desse à imaginação, tanto eu como Zélia raramente nos encontrámos. Só nos conseguimos encontrar finalmente na ilha, quando começou, aí entre Junho e Julho. Isto é uma situação que define a repressão..."
Festival Internacional de la Canción Popular - Varadero - Cuba
Zeca é convidado para participar neste Festival. Acometido por um esgotamento nervoso, não canta. No regresso, é detido e passa 24 horas nos calabouços da PIDE (novembro de 1970).
Nota: em muitas biografias (senão em todas) refere que Zeca foi convidado para este Festival em 1971. Não foi. Tal como no tema que aqui coloquei sobre o telegrama enviado pelos cantores presentes no Festival em Manágua, onde referem a data do evento em 1984, aqui também há que retificar a data. O Festival em Varadero foi em Novembro de 1970 e não 1971. O primeiro foi em 1967, seguiu-se este em 1970 e só voltou a haver de novo este Festival em 1980.
Um dos que lá cantou foi Joan Manuel Serrat, grande amigo de Zeca. Podemos ouvir parte desse festival aqui: