«Não é uma criança má nem lorpa. Em Lourenço Marques, o professor, apesar de não o compreender, afirmava que ele é inteligente. Quanto a bondade, dizia que ele era o melhor aluno que tinha na escola! Então que é ele? Não sei. Sei apenas que é uma criança... terrivelmente criança»
«O que me ficou de Coimbra... o lirismo também. Nós vivíamos em Coimbra acima das suas possibilidades reais. Imaginava Coimbra acima das suas reais dimensões. Era uma Coimbra poetizada porque quando eu queria concretizar na cidade essa imagem, era uma chateza do caraças.
Invariavelmente ia dar à Rua Visconde da Luz, à Ferreira Borges, e encontrava os mesmos tipos nos mesmos lugares, ali no Arcádia, e pensava muitas vezes: afinal esta cidade é muito mais fechada, é muito mais prosaica do que possa parecer.»
Zeca Afonso
"José Afonso, o Rosto da Utopia", de José A. Salvador
José Afonso nasceu a 2 de agosto de 1929. Se fosse vivo hoje faria 88 anos.
Parabéns Zeca
"Zeca resulta da enxertia de uma cepa beirã (pai) em vide minhota (mãe), ambas transplantadas para a foz do Vouga. Da combinação onomástica dos progenitores saiu-lhe o nome: José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos. As contingências, sempre arbitrárias, reduziram-no mais tarde para José Afonso, Zeca para os mais íntimos (...)
Não existe a casa onde Zeca nasceu, na parte superior daquilo que foi a escola infantil, por essa altura a cargo da mãe. Uma instituição pré-primária que remontava ao liberalismo"
"Dos três irmãos (João, Zeca e Mariazinha), foi ele quem mais se aproximou, na fisionomia e talvez na psicologia, dos Cerqueiras. (...) A tez clara, os olhos rasgados (para horizontes invisíveis) e também uma sensitiva vibração, a capacidade imagética, a descoberta do lado oculto das coisas vinham, a meu ver, da costela Cerqueira ou talvez da parte Dantas Cerqueira.
Mas a moldura era dos Afonsos, neste sentido de que puxava ao pai, por sua vez mais parecido com o pai dele (o avô Santos) do que com a mãe (a avó Lucrécia) onde o sobrenome Afonso vai buscar afinal a sua origem."