Octávio Sérgio nasceu em Viseu, a 15 de agosto de 1937.
Em Coimbra, para onde fora em 1957 para cursar Físico-Químicas na Faculdade de Ciências, fez parte de vários grupos do fado coimbrão. Acompanhou vários cantores como Adriano Correia de Oliveira (1942-1982), António Bernardino (1941-1996), António Sousa Pereira, João Barros Madeira , José Maria Lacerda e Megre (Filho) e José Afonso.
A sua estreia discográfica seria no LP "Melro" de Janita Salomé em 1980.
Pesquisas feitas não tenho qualquer referência do Octávio Sérgio acompanhando Zeca em eventos antes da gravação do disco "FADOS DE COIMBRA E OUTRAS CANÇÕES", LP que saiu em novembro de 1981.
Viria a gravar deste LP para a RTP juntamente com Durval Moreirinhas, o videoclip "Saudades de Coimbra"
A 19 de Março de 1982, actuou em Almada, na Academia Almadense, com José Afonso, Armando Marta, Durval Moreirinhas e António Sérgio.
A 17 de junho Octávio Sérgio actua com o filho, António Sérgio, na Sessão de Canto na Escola Comercial das Caldas da Rainha "Pela libertação dos presos políticos" com Zeca Afonso, Francisco Fanhais, Júlio Pereira, o guitarrista Octávio Sérgio e filho, o escritor Nuno Bragança e o poeta Manuel Alegre de apoio aos grevistas da fome do PRP
Obs: Embora haja referências sobre a presença de Francisco Fanhais neste evento, até agora não vi uma única foto onde o Fanhais esteja presente.
A 21 de Agosto no Barreiro, Octávio acompanha José Afonso, com Durval Moreirinhas e António Sérgio.
"Foi um bom espectáculo. O Zeca começou por cantar "Saudades de Coimbra" e "Balada do Outono". Toquei depois o meu "Lá menor". José Afonso voltou a cantar, agora a "Senhora do Almortão" e eu toquei o já gasto "Lá maior" de António das Águas. Zeca canta "Os Vampiros" e termino esta parte com "Dor na planície". As minhas peças foram muito bem aceites. O Zeca ficou entusiasmado com o espectáculo e começou a pensar em actuar mais vezes com este programa. Mas, pelo que hoje soube, não prevejo grande futuro na continuação destes espectáculos. Zeca Afonso está pior da doença que o aflige. Está a pensar em ir até à Roménia fazer um tratamento. Há dias tinha-me telefonado mostrando o desejo de vir a gravar um disco com peças feitas para serem acompanhadas à guitarra, tipo "Oratória" ( foi mesmo assim que lhe chamou!). Não sei se irá ter forças para levar esta ideia para a frente."
No Inverno de 1982, José Afonso, Octávio Sérgio e Durval Moreirinhas participaram no programa que Júlio Isidro então conduzia na RTP/1 nas tardes de domingo. (perguntei ao Júlio Isidro se tinha esta gravação e se me podia ceder caso a tivesse e até hoje não recebi qualquer resposta).
A 29 de janeiro de 1983 Octávio acompanha Zeca Afonso no Coliseu de Lisboa.
A 5 de fevereiro está presente na "Festa da Amizade" realizada nas Caldas da Rainha em apoio a Zeca já muito afetado pela doença que o iria vitimar.
Dia 25 de Maio no Coliseu do Porto, novamente com José Afonso, para uma repetição do espectáculo do Coliseu em Lisboa.
No dia 26, Octávio Sérgio vai com Zeca a Coimbra onde Zeca viria a receber a medalha de ouro da cidade.
"Fizeram-no estar duas horas ao relento, na Sereia, o que lhe não fez nada bem, dado o adiantado da doença de que padece. Cantou apenas "Saudades de Coimbra" mas não conseguiu chegar ao fim sem lhe falhar a voz."
... e com este evento acabou a participação do Octávio Sérgio, que se conheça, com Zeca Afonso.
No alvor dos anos 60 do séc. XX, José Afonso (1929-1987) deu origem ao segundo movimento regenerador da Canção de Coimbra. Mesmo sem pretensão programática e num grande despojamento estético, impulsionou o que veio a ser conhecido como o “Movimento da Trova e da Balada”. Neste movimento, a superação do maneirismo neo-romântico tradicional, bem como a assunção de uma intencionalidade contestatária e militante, marcaram a forma e o conteúdo das baladas de José Afonso e das trovas de Adriano Correia de Oliveira.
As canções de José Afonso, em cuja emotividade poética, originalidade melódica e singularidade rítmica se cruzam inquietação social, surrealismo popular, lirismo amoroso e utopismo libertário, tiveram impacto não apenas no renovamento do canto académico de Coimbra, mas no processo mais amplo de regeneração da Música Popular Portuguesa.
José Beato
(no âmbito do ciclo de palestras “Canção de Coimbra: Cultores e Repertórios”, uma organização da Câmara Municipal de Coimbra)
Para contornar a censura, alguns autores começaram a usar termos metafóricos: em vez de Socialismo, escreviam "Aurora", em vez de Revolução, escreviam "Primavera", em vez de Polícia, "Vampiro", o que tinha o condão de tornar muita da prosa que se escrevia em textos poéticos que alguns recordam, paradoxalmente, com nostalgia. Um poema de David Mourão Ferreira, celebrizado por Amália Rodrigues como o "Fado de Peniche" termina com "Ao menos ouves o vento! - Ao menos ouves o mar", sendo todo o poema uma referência ao sofrimento dos presos políticos no Forte de Peniche à beira mar, que sofriam por vezes em situações de extrema angústia e de tortura.
Conta-se, que o célebre refrão das Janeiras (como a versão "Natal dos Simples" de Zeca Afonso): "Pam, pa ra ri ri, Pam, pa ra ri ri, Pam, pam, pam..." era por vezes cantado, em concertos como "Vão parar à PIDE, vão parar à PIDE, vão, vão, vão...", o que terá ocasionado situações cómicas como a de um censor que se juntou ao coro subversivo, julgando cantar apenas uma simples canção popular, e que depois foi severamente repreendido, na sua inocência, pelos superiores.
Natal dos Simples foi um verdadeiro sucesso, sendo uma das raras composições de José Afonso que tinham direito a transmissão na rádio portuguesa, apesar do disco ter sido proibido pela Emissora Nacional.