Segunda-feira, 29 de Setembro de 2014
align=justify>1979 - Zeca participa, em Londres, numa manifestação promovida pela Amnistia Internacional de Solidariedade com os presos do IRA.
align=justify>João Afonso:
«Aos fins-de-semana, eu, o Zeca e um amigo que ainda lá está (1983), o Simões saíamos da cidade do cimento e íamos para o caniço» Íamos os três, eu com a minha máquina de filmar, o Simões com a máquina fotográfica, e o Zeca a acompanhar-nos. O caniço no Xepangará não era tão deprimente como em Lourenço Marques de então. Invariavelmente, fazíamos este ritual dos fins-de-semana: penetrar na zona suburbana e olhar. Reuníamos na casa uns dos outros. O Zeca cantava, o Simões gravava. Éramos uma minoria, mesmo a malta do cineclube. À beira da minha casa havia dois marimbeiros que tocavam quando o dia desaparecia. Era uma coisa indescretível.»
Faziam recolhas de músicas populares de pessoas que encontravam. Destas pesquisas guardou Zeca, influências dos ritmos africanos e fez uma canção que descreveu como uma «meramente rememorativa - evocativa de personagens e lugares» intitulada «Lá no Xepangara» (Coro dos Tribunais, 1975). O álbum "Coro dos Tribunais" foi o seu primeiro trabalho gravado sem censura.
Fontes: Zeca Afonso - Livra-te do Medo - José A. SalvadorE daqui
align=justify>Em 1968, o médico Vilarmourense António Augusto Barge repetiu o festival (o anterior tinha ocorrido em 1965) onde reuniu a Banda da GNR, Zeca Afonso, Carlos Paredes, Luís Goês, Adriano Correia de Oliveira, Quinteto Académico+2, Shegundo Galarza e alguns grupos folclóricos. Estima-se que assistiram a este festival cerca de quinze mil pessoas, repartidos por três dias.
"Foi na casa ao cimo do Caminho de Chêlo, onde se encontravam os verdadeiros «bastidores» do festival, que Zeca Afonso veio a conhecer Manuel Freire, então um cantor pouco conhecido que ainda «não sabia nem sonhava» que a sua Pedra Filosofal iria ter tanto êxito. «Manuel Freire conheceu Zeca Afonso aqui ao lado, na varanda da nossa casa», conta Isabel Barge. «Tornaram-se amigos e logo aí o doutor José Afonso, como era oficialmente tratado, convidou Manuel Freire, então com 26 anos, para cantarem juntos, o que aconteceu duas vezes na semana seguinte.»"
O festival de 1968 não passou despercebido à PIDE (polícia política), que recebeu relatórios sobre as canções proibidas cantadas em coro por Zeca Afonso e pelo público, mas teve pouco impacto no país, ao ponto de ainda hoje ser atribuído o nascimento do festival à edição de 1971.
"O palco era muito simples", lembra José, uma dos poucos músicos que ainda podem contar a história. Para o evento, o Quinteto Académico decide encomendar uma aparelhagem dos EUA, com uns muito modestos 200 watts. "Na altura não era nada mau, tinha duas colunas pequenas e fizemos uma ligação a mais duas, para as pessoas ouvirem no recinto." O sistema de som artesanal era suficientemente profissional para servir para todos os músicos da noite, com um espantando Zeca Afonso a dizer, "Opá, parece que estou em casa". O foco da noite estava mesmo nas palavras do cantor de Aveiro. Com a primavera marcelista acabada de florescer, o público procurava incentivos de liberdade.